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Neurodiversidade caminhos para o amanhã

28 de março de 2025

​​​​​​O trabalho da LBV para oferecer uma rede de apoio e o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes autistas

O Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo — instituído, no ano de 2007, pela Organização das Nações Unidas (ONU) para ser celebrado em 2 de abril — traz uma grande oportunidade para a sociedade conhecer mais sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), bem como as necessidades e o potencial das pessoas nessa condição.
Por sinal, vale aqui destacar que estudos feitos a partir de 2013 foram os responsáveis por acrescentar o termo “espectro” a esse transtorno, exatamente pela diversidade de sintomas e níveis apresentados pelo TEA. Os conjuntos de manifestações são próprios, individuais, o que exige uma atenção única, especial para cada cidadão.
Vencer as dificuldades de comunicação, interação social e aprendizagem pede preparo, paciência e muito amor de pais ou responsáveis e dos professores e profissionais que os acompanham, tendo em vista que uma das características do TEA é o comportamento restrito e repetitivo.
Por conta desses desafios, as mais de 80 unidades da Legião da Boa Vontade (LBV) pelo Brasil têm se aperfeiçoado nas providências necessárias para receber crianças, adolescentes e jovens autistas. A base de todo o trabalho da Instituição está nos conceitos das vanguardeiras Pedagogia do Afeto (para crianças de até os 10 anos de idade) e Pedagogia do Cidadão Ecumênico (a partir dos 11 anos), as quais propõem “uma visão além do intelecto”, conforme destaca o seu propositor, o educador Paiva Netto, presidente da LBV.
Nesta matéria, a LBV traz história inspiradora que demonstra que é possível assegurar a todos uma melhor qualidade de vida, a fim de que as pessoas autistas também tenham os seus direitos assegurados.

“A LBV é a rede de apoio que eu nunca tive”

Imagine encontrar uma mãe com dois filhos autistas, uma mulher que se preparou muito para a maternidade, mas que se viu diante de algo que a princípio não entendia. Nesta reportagem, a atendida pela LBV Marilene Araújo, moradora da cidade de Sorocaba/SP, representará milhares de outras mulheres que se veem, diariamente, diante do desafio de oportunizar o melhor para suas crianças. No caso dela, a Sophia, de 12 anos, e o Murilo, de 11, aos quais ela se dedica para que possam crescer e se desenvolver como os demais, tornando-se adultos felizes e independentes.

INFORMAÇÃO DE QUALIDADE E COMBATE AO PRECONCEITO
Após contar com o suporte de especialistas da área da saúde que ajudaram a diagnosticar o TEA de seus dois filhos, oportunizando o tratamento correto, ela encontrou a “família da Legião da Boa Vontade”, como gosta de afirmar. Marilene, em conversa com nossa equipe, evidenciou diversas vezes como o conhecimento sobre essa condição fez a diferença na sua trajetória e na de suas crianças, porque é a partir da “identificação que você sabe o que tratar, os pontos em que se têm dificuldade”, explica. Além disso, a falta de informação alimenta o preconceito e a discriminação contra as pessoas com o transtorno.
O diagnóstico do Murilo foi feito apenas quando tinha 8 anos, conta a mãe: “Quando eu descobri o autismo dele, era nível 3 de suporte, ele não falou e usou fralda até os 6 anos de idade. Hoje, está no nível 2, houve um grande progresso”, revela. Em relação à filha Sophia, foi mais difícil perceber o TEA, que se mascarou por anos, sendo confundido com depressão, levando-a a tomar remédios errados. A menina era muito quieta, tímida, e não conseguia fazer amizades, sofrendo bullying na escola, até que um neuropsiquiatra fechou o laudo de autismo dela como de nível 2 de suporte, há um pouco mais de um ano, quando já estava com 11 anos.
Além da falta de interação social dos dois filhos, o fato de ainda serem muito dependentes dela, mesmo com o passar dos anos, fez Marilene procurar ajuda no Centro Comunitário de Assistência Social da LBV na cidade do interior paulista, por meio do serviço de convivência e fortalecimento de vínculos. Criança: Futuro no Presente!, cujo público atendido é de usuários entre 6 e 15 anos. Primeiro, veio a Sophia, em novembro de 2022, e depois o irmão, em janeiro do ano seguinte.
A Instituição a surpreendeu de forma bastante positiva: “Quando vim conhecer, falei da dificuldade de incluí-los mais na sociedade. Não sabia se eles poderiam ficar aqui, porque é bem complicado esse negócio de aceitação, mas fui recebida com muito carinho”.

DIVISOR DE ÁGUAS
Na Legião da Boa Vontade, a genitora encontrou exatamente o amparo de que necessitava: “Aqui é a extensão da minha família, a rede de apoio que eu nunca tive, tanto para as crianças quanto para mim. Todas as vezes que precisei, a Instituição me deu um norte. Foi e é muito importante para nossa família. A LBV é um divisor de águas, tanto na evolução das crianças como no suporte, no apoio para mim”.
Sobre o desenvolvimento com os estímulos certos ofertados na Entidade, Marilene emociona-se ao enumerar: “O Murilo tinha dificuldades na parte de coordenação motora fina; atualmente ele toca instrumentos, dança e ama tecnologia, chega em casa cantarolando as canções que aprende aqui [na LBV]. (…) Ele e a Sophia têm paixão pela música. Ela adora flauta, teclado e, agora, está aprendendo a tocar pandeiro, também passou a conversar com todo mundo e, na semana passada, contou para mim toda contente: ‘Mamãe, me escolheram como líder de sala’”.

FERRAMENTAS EDUCACIONAIS
A educadora social Rosane Cavalcante, que atua na unidade da LBV em Sorocaba, ressalta que, além do atendimento de profissionais externos, o progresso dos irmãos é resultado de inúmeras iniciativas da Legião da Boa Vontade: “O Serviço de convivência atua na prevenção de situações de risco social por meio do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, bem como da promoção da autonomia dos usuários, para a superação de suas vulnerabilidades, oferecendo um ambiente acolhedor e estimulando o convívio social como forma de proteção e inclusão”, explica.
Outro passo importante, que, por sinal, é uma das premissas do serviço de convivência da LBV, foi o de conscientizar os demais usuários sobre as questões que envolvem o autismo. “Este é um assunto que não é muito abordado, principalmente nas escolas. Fiz um planejamento sobre as dificuldades e os potenciais das pessoas autistas, e, numa roda de conversa, eles puderam falar um pouco sobre como se sentem, manifestaram suas dúvidas sobre como se relacionar… Alguns, querendo até superprotegê-los, pensam que os autistas não têm capacidade de fazer as coisas sozinhos, e não é isso. Eles são super capazes de aprender, é só ter paciência. Foi interessante essa troca, uma maneira de acolhermos os dois, para que se sentissem mesmo pertencentes ao grupo.”
Para Marilene, essa ação de reforçar o vínculo entre eles foi fundamental: “Eles conseguiram se ajustar à sociedade, e a sociedade entendeu as dificuldades deles. Hoje são outras crianças”.

Criança: Futuro no Presente!

Por meio desse serviço, a Legião da Boa Vontade busca garantir a crianças e adolescentes de 6 a 15 anos de idade proteção social e acesso a atividades socioeducativas que propiciem seu desenvolvimento integral. Além disso, oferece tranquilidade às famílias para que possam trabalhar, pois sabem que os filhos estão em local seguro e saudável, longe da violência das ruas. “O mundo é porta aberta para todos os caminhos. E, hoje, os meus filhos, estando na LBV, têm a oportunidade [de serem conduzidos à] boa conduta, ao amor, ao carinho ao próximo, ao respeito. Eu digo que a LBV me ajudou, porque tinha uma visão do que é ser mãe, e mudei ao passar por essa transição na minha vida. Com tudo o que aconteceu, aprendi a ser a mãe que eles precisavam, e não a que eu queria ser”, afirma Marilene Araújo, mãe da Sophia, 12 anos, e do Murilo, de 11, atendidos pela LBV.
Em Sorocaba/SP, são mais de 100 crianças e adolescentes que participam das ações no Centro Comunitário de Assistência Social da LBV, localizado na Rua José Benedicto Martins, 24, Jardim São Guilherme, tel.: (15) 3302-4034. Essa turminha se desenvolve com atividades diárias lúdicas, esportivas e culturais, que promovem a socialização, o diálogo, a aprendizagem e a troca de experiências. Todos os anos, os atendidos são beneficiados também com kits de material pedagógico e uniforme.

Sinais e sintomas do TEA

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) em crianças pode ser identificado por diversificados sinais, variando em intensidade e manifestação. É amplamente reconhecido que um diagnóstico precoce oferece à pessoa a oportunidade de um melhor desenvolvimento, por isso, é fundamental estarmos atentos. As questões elencadas variam de indivíduo para indivíduo.

1 – Dificuldades na interação social:
Contato visual reduzido: as pessoas com TEA tendem a evitar ou manter pouco contato visual durante interações.
Preferência pelo isolamento: podem buscar atividades solitárias, mostrando desinteresse em brincar com outras crianças.
Déficit na percepção emocional: há um desafio em entender e responder adequadamente às emoções alheias.

2 – Obstáculos na comunicação:
Atraso ou ausência da fala: algumas crianças podem não desenvolver a fala no período esperado ou apresentar ausência completa da comunicação verbal.
Ecolalia: repetição de palavras ou frases de forma insistente, muitas vezes fora de contexto.
Dificuldade em iniciar ou manter conversas: é possível apresentar desafios para começar ou sustentar diálogos.

3- Comportamentos repetitivos e restritivos:
Movimentos repetitivos: incluem balançar o corpo, bater palmas ou agitar as mãos de maneira constante.
Apego rígido a rotinas: resistência a mudanças na rotina diária, podendo causar grande desconforto quando alterada.
Interesses restritos: foco intenso em temas ou objetos específicos, como partes de brinquedos ou assuntos peculiares.

4 – Sensibilidade sensorial alterada:
Reações exageradas a estímulos: sensibilidade aumentada a sons, luzes, texturas ou cheiros, podendo resultar em reações intensas a estímulos sensoriais comuns.

5 – Dificuldades na compreensão e uso da linguagem:
Interpretação literal: difícil entendimento de expressões idiomáticas, sarcasmo ou humor, levando a interpretações literais da linguagem.

Destaques:

70 milhões de pessoas no mundo possuem Transtorno do Espectro Autista (TEA), de acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS).

2,8% da população de crianças de 8 anos norte-
-americanas, ou seja, 1 em cada 36, tinham diagnóstico de autismo, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, em 2020.

48% foi o índice de aumento de alunos matriculados com TEA no Brasil, entre 2022 e 2023, passando de 429 mil para 636 mil, de acordo com o Censo Escolar 2023.

 

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